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.: Caminhos do destino :.

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|||Quando em uma das entrevistas realizadas com o Ex-Combatente Francisco Vieira Trindade, viemos a descobrir, por informações prestadas por seu filho, o Sr. Wilson Vieira Trindade, que além de seu pai e do Ex-Combatente Osvaldo Raphael Santiago, havia outro Ex-Combatente de 32 que ele próprio tinha ouvido falar, mas que sabia ser falecido, mas cujo primeiro nome ele se lembrava, qual fosse, Durvalino.

|||Por não saber de nenhum outro detalhe a respeito de Durvalino, deu o Sr. Wilson encerrado o assunto e mês e pouco se passou desde o nosso último encontro, sem que nada mais ouvisse eu dele sobre a pessoa desse Ex-Combatente desconhecido.

|||Não obstante, quando da minha visita ao Cemitério Municipal de Itapetininga para o levantamento de maiores dados sobre o Ex-Combatente Francisco Fabiano Alves em fins de julho, vim a conhecer as pessoas do Sr. Wilson Gomes de Almeida Júnior e o Sr. Walter Luiz de Oliveira, sendo o primeiro funcionário público lotado no cemitério e o segundo advogado.

|||Ambos mostraram-se muito solícitos à minha busca por informações e me ajudaram no que puderam, sendo que o Sr. Walter ofereceu-se para apresentar-me a pessoa de Francisco Manoel Soares, o "Seu Chiquinho" como ele o chamava, funcionário aposentado da Prefeitura que tinha a particularidade de guardar tudo o que lhe caísse em mãos: revistas, documentos antigos e livros raros sobre a história da cidade.

|||""Se alguma coisa a mais sobre o professor Fabiano o senhor quiser encontrar, talvez o Seu Chiquinho poderá ajudar com as coisas que ele tem lá na casa dele" - foi o que me disse o Sr. Walter enquanto nos dirigíamos até a casa de Chiquinho.

|||"E realmente estava Walter certo, até além do que eu esperava.

|||"Chiquinho nos recebeu em sua casa e pressurosamente nos levou para conhecer a sua biblioteca. Ali, de imediato, retirou ele uma cópia do número 4 da Revista Câmara Aberta, ano 2, edição de janeiro de 1987, na qual consta uma foto que hoje ilustra a página do vet. Francisco Fabiano Alves e logo em seguida nos emprestou o livro ITAPETININGA ONTEM-HOJE (1986) do célebre escritor e historiador itapetiningano Carlos Fidêncio.

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Fonte: Francisco Manoel Soares

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|||"Foi ao folhear esse livro que as surpresas que me aguardaram emergiram de forma incisiva.  

|||"De fato, tais páginas não só me revelaram um pouco mais sobre a vida de uma das irmãs de Fabiano, a D. Juliana Fabiano Alves (p. 170), como no Apêndice II da obra, intitulado REVOLUÇÃO DE 32, vim a encontrar texto biográfico sobre Durvalino de Toledo, o mesmíssimo Ex-Combatente de 32 que o Sr. Wilson Vieira Trindade havia me falado da existência, mas que se lembrava apenas do primeiro nome.

|||"Que enorme e satisfatória surpresa!

|||"Com efeito, ao chegar em casa, li de uma tomada só o capítulo "BLINDADO, O HERÓI ITAPETININGANO", constante na página 371 da obra ITAPETININGA ONTEM-HOJE de Carlos Fidêncio e, tomando por base as informações ali existentes, que colhidas foram por esse autor em depoimentos a ele prestados pelo próprio Durvalino de Toledo, em meados de 1985, apresento a seguir o resgate da história desse Ex-Combatente, cujos contornos e desenlaces de sua vida realmente demonstram quão feliz e apropriada foi a escolha do título "BLINDADO, O HERÓI ITAPETININGANO" para o texto biográfico que lhe fora escrito por Carlos Fidêncio.

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.: um goleiro da Força Pública :.

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|||Segundo o seu biógrafo Carlos Fidêncio, o nosso Ex-Combatente de 32, Durvalino de Toledo nasceu em Itapetininga em 29 de janeiro de 1907, filho do Sr. Eugenio de Toledo e da Sra. Brasilia Maria do Espírito Santo,  casal itapetiningano de família humilde, honrada e trabalhadeira, cujos membros gozavam de excelente saúde, otimismo, iniciativa, garra e desprendimento, porquanto o jovem Durvalino, desde os mais ternos anos, já demonstrava não só esses atributos, mas exibia no largo sorriso, um enorme e generoso coração.

|||Nesse ambiente prenhe de valores sadios, Durvalino cresceu e sua expressiva complexão atlética, altura e largas espáduas denunciavam uma força física incomum, que aliada a um profundo senso de responsabilidade, não tardaram para fazer dele destaque não só na profissão de pedreiro que abraçou, como também na prática desportiva enquanto goleiro do time do bairro.

|||Sua desenvoltura física não passou desapercebida dos colegas mais chegados, que o apelidaram de "onça" e que mais tarde não deixaram de recomendá-lo para integrar o time de futebol do 8º Batalhão de Caçadores Paulistas (8º BCP) da Força Pública do Estado de São Paulo (atual Polícia Militar do estado).

|||Com relação ao seu ingresso naquele time, Carlos Fidêncio, nos alerta na página 372 de seu livro que Durvalino por dois anos fora goleiro desse batalhão sediado em Itapetininga, até que, em fins de 1931, o comando do mesmo deliberou que se ele quisesse permanecer no time, teria que ingressar na Força Pública.

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Detalhe do campo de esportes do 8º BCP em 1931 onde praticava Durvalino

Fonte: Livro A FORÇA PÚBLICA DE SÃO PAULO (1931, p.124)

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|||Seja como for, a paixão pelo futebol realmente falou mais alto e deixar a prática desportiva que tanto gostava seria algo impensável para o Durvalino na plenitude de seus vinte e quatro anos. Que sentasse praça, então! trocava a profissão de pedreiro pela de soldado da Força Pública, mas não deixaria o time do coração que tantos gols já havia defendido e haveria ainda de defender.

|||Provavelmente foram esses, sem dúvida, os pensamentos que povoaram a mente de Durvalino e o motivaram a envergar a mesma briosa farda cáqui de seus companheiros de futebol. Não obstante, desconhecia o jovem itapetiningano que dali a menos de um ano, a decisão de assentar praça lhe acarretaria participar ativamente do maior movimento cívico do Estado de São Paulo, a Revolução Constitucionalista de 1932.

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.: da bola para o fuzil :.

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|||Conforme vimos nos estudos realizados sobre as participações dos Ex-Combatentes Francisco Vieira Trindade e Osvaldo Raphael Santiago na revolução de 32, quando esta irrompeu na memorável jornada de 9 de julho, o prédio da atual sede do DER de Itapetininga tornou-se o Quartel General do Exército Revolucionário do Setor Sul, sob o comando do insigne coronel Basílio Taborda.

|||Foi neste prédio que o então soldado Durvalino muito provavelmente conhecera tanto a Francisco Trindade, quanto a Osvaldo Santiago e com eles travara amizade, se até não foram destacados para serviram juntos em um dos vários batalhões de voluntários que ali se formaram. Os mesmo se poderia conjecturar a respeito do então 1º tenente Francisco Fabiano Alves, oficial subalterno, senão comandante de companhia dessas mesmas unidades.

|||Seja como for, Carlos Fidêncio não soube precisar que batalhão pertencera o soldado Durvalino por ocasião da Revolução de 32, mas o então capitão Dilermando Cândido de Assis, das forças legalistas que enfrentaram nossos paulistas em Itararé, para onde Durvalino e cerca de oitenta outros companheiros foram enviados na jornada de 15 de julho, relata na página 108 de seu livro Vitória ou Derrota (1936) que as unidades por São Paulo ali presentes eram o 8º Batalhão de Caçadores Paulista (8º BCP) e o 1º Regimento de Cavalaria Paulista.

|||Ora, sendo Durvalino soldado de infantaria e tendo ele assentado praça no 8º BCP, chances plenas são de que ele tenha partido em fração dessa unidade (provavelmente um pelotão ou companhia) para ter o seu batismo de fogo nas sangrentas trincheiras de Itararé nas jornadas de 17 a 18 de julho.

|||Nos combates desses dois dias, sagraram-se vitoriosas as forças legalistas, quer pela superioridade numérica de efetivos, quer pelo expressivo poder de fogo de artilharia, "mais de 12 bocas de fogo de 75mm atirando ao mesmo tempo" (ASSIS, 1936, P. 122) os quais colocaram em retirada os defensores de Itararé, mas ficando aprisionados 45 destes. Durvalino, porém, fora um dos que conseguira recuar, mas não antes de enterrar alguns dos companheiros tombados na véspera.

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.: O soldado blindado :.

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|||Caída a posição de Itararé, a primeira resistência do Setor Sul, seguiam as forças getulistas em direção à Itapetininga, mas estas não haveriam de lograr o seu intento sem antes enfrentar a garra do soldado paulista.

|||A segunda posição de resistência passou agora a ser em Ibiti, na qual reagrupadas foram as tropas revolucionárias, mas novo revés sofreram em face do grande número de armas automáticas, farta munição, além do crescente efetivo de infantaria, cavalaria, artilharia e aviação.

|||De Ibiti nossos paulistas recuaram para a estação ferroviária de Engenheiro Maia, dali para Itapeva e tomada esta, para o município de Buri, onde, nos dizeres de Carlos Fidêncio, eles "fincaram o pé" (p. 373) conseguindo então resistir ao avanço inimigo por algum tempo.

|||Foi a partir dessa resistência heróica em Buri que Durvalino ganhou o apelido de Cabo Blindado.

|||Com efeito, a palavra Blindado do apelido de Durvalino se refere ao temível Trem Blindado ou, como também era conhecido, o FANTASMA DA MORTE. 

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O Trem Blindado

Fonte: Portal DarozHistoriaMilitar

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|||Tratava-se de uma criação do Exército Revolucionário que tinha por objetivo alvejar as forças legalistas nas estações ferroviárias e/ou qualquer ponto da extensa malha ferroviária onde elas estivessem. Foram criadas seis versões do Trem Blindado. As versões de nº 1 e nº 2 (TB 1 e TB 2) serviram no Exército Constitucionalista do Setor Sul.

|||Segundo o portal do Historiador Militar Carlos Dároz, o trem havia sido fabricado em Sorocaba e possuía "uma composição formada por dois carros, um de cada lado da máquina e revestidos de aço (duas placas de aço entremeadas de pranchões de cerne de peroba duríssima). Camuflado (era pintado com listas de diversas cores), o trem era equipado com canhão de 75 milímetros e metralhadoras pesadas nos flancos, e carregava dois potentes holofotes na parte superior".

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Trem Blindado de nº1 que atuou no Setor Sul onde Durvalino combateu

Fonte. Trem Blindado (2019)

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|||Tal máquina mortífera, a distância, aparentava ser um trem com qualquer outro, mas quando se aproximavam desta os soldados legalistas para fazer tomá-lo, eis que as metralhadoras surgiam das várias aberturas existentes em seus flancos e à larga abatiam quem quer que cruzasse o seu caminho, cenas lúgubres melhor descritas por Fernando Penteado Medici, testemunha ocular desses fatos, no seu livro Trem Blindado, publicado em 1933:

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"Dois quilômetros e o inimigo à vista. Os homens avançavam, certos de que era um trem de mercadoria, ou de víveres (realmente, como estava disfarçado), e, em posição de atirar, ajoelhavam pelos trilhos. As nossas metralhadoras picotaram os inconscientes. A primeira impressão foi dolorosa. Pungente mesmo. Presenciar umas cenas destas" (grifos nossos).

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|||Tal ferocidade e audácia, guardadas as devidas proporções, também foram as características de maior relevo observadas no soldado Durvalino pelos seus superiores.

|||Com efeito, o seu sangue frio e expressiva combatividade perante o inimigo, fosse no combate à distância de tiro de fuzil ou no cruzar do aço da arma branca, demonstravam que Durvalino não arrefecia da sua vigorosa disposição física para lutar e não desanimava diante dos reveses e das baixas que seu batalhão sofria. Forças lhe sobravam ainda para enterrar os companheiros mortos e ajudar a evadir aqueles que feridos foram.

|||Como resultado dessa conduta excepcional no campo de batalha, o antigo apelido dos tempos de goleiro da vizinhança "Onça" não demorou muito para ser merecidamente substituído pelo de "Blindado" e, sob essa nova autonomásia, ficou o soldado Durvalino conhecido como soldado blindado, cada vez mais arrojado nas escaramuças que enfrentava quase que diariamente com o inimigo.

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.: A Legião Negra :.

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|||Se tais atributos de coragem e intrepidez não passaram desapercebidos aos que diuturnamente conviviam com Durvalino, também não passarem eles ao coronel Brasílio Taborda, Comandante do Exército Constitucionalista do Setor Sul, sediado em Itapetininga, que determinou a transferência de Durvalino do 8º BCP para unidade que ficou conhecida como a tropa de elite do Exército Revolucionário, a saber, a Legião Negra.

|||Com efeito, organizada em três batalhões de infantaria, a quase totalidade dos 3500 soldados que a compunham eram homens de afro-descendência, na época ditos "homens de cor", depois apelidados de “pérolas negras”.

|||Munidos dos mesmos uniformes do Exército Constitucionalista, a Legião Negra distinguia-se das demais tropas desse exército apenas no chapéu, que era de abas largas.

|||Segundo depoimentos de Durvalino prestados à Carlos Fidêncio, somente dois oficiais de um desses três batalhões que ele pertenceu não eram afro-descendentes. O major comandante do batalhão e um tenente comandante de uma das companhias (FIDÊNCIO, 1986, p. 374)

|||No entanto, o que realmente caracterizava tal tropa de elite não era a cor da pele de seus integrantes, nem o tamanho da aba dos chapéus, mas o alto nível de combatividade dos mesmos perante os maiores perigos que arrostavam bravamente por São Paulo.

|||Segundo o portal Piracaia.com, em artigo intitulado "Revolução de 32 - a parte negra de nosso história" jornais da época enalteciam a conduta da Legião Negra nos seguintes termos:

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Resistindo ao furor das hostes  ditatoriais, muitas vezes enfrentando contingentes numericamente superiores, os bravos pretos não recuam nem se rendem. Tem sido assim o seu proceder em diversos reencontros, fatos que têm sido testemunhados com visível admiração pelos demais companheiros que combatem ao seu lado”.

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|||Felizmente muito do que foi registrado sobre a saga da Legião Negra não ficou restrito a jornais e depoimentos. De fato, duas obras, recentemente publicadas, lançam luzes sobre essa tropa e a contribuição dos paulistas afro-descendentes na Revolução de 32.

|||Em 8 de julho de 2009, a Imprensa Oficial lançou "A Revolução Constitucionalista de 1932 em quadrinhos"s de autoria do cartunista Maurício Pestana. Já em 20 de julho de 2011, se deu em São Paulo a noite de autógrafos de "A Legião Negra - A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932", (Editora Selo Negro Edições) do jornalista Oswaldo Faustino.

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Obras de Osvaldo Faustino e Maurício Pestana que relatam sobre a Legião Negra

Fonte: Portal do Grupo Summus e Revista Raça Brasil

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|||E foi justamente nessa unidade que tantas glórias trouxe para São Paulo que o soldado Durvalino veio a participar de uma ação de combate que marcaria o restante de sua vida para sempre.

|||Estava Durvalino e seus companheiros de Legião estacionados em Buri quando ordens receberam para dali se deslocarem para as proximidades de Capão Bonito, mais especificamente na localidade de Capela de Santo Antonio, conhecida pela população ali residente de "Pimirim" ou ainda, "Apiaí-Mirim".

|||As ordens recebidas no dia 25 de agosto de 1932 foram claras. Expulsar as tropas legalistas que naquele arraial haviam se instalado desde o dia 23. Informações eram de que era tropa de cavalaria era de pequeno efetivo, parcamente armada e municiada.

|||Segundo o então capitão Dilermando Cândido de Assis na página 265 de seu livro Vitória ou Derrota (1936), essa tropa era o 1º esquadrão do 9º Regimento de Cavalaria Independente (I/9ºRCI) que para ali fora estacionado com destino à Capão Bonito.

|||Depoimentos de Durvalino à Carlos Fidêncio apontam que os efetivos do batalhão que ele servia eram de 150 homens. Já o capitão Dilermando de Assis na página 267 de seu livro indica que a tropa de Durvalino chegava ao número de 300.

|||Seja qual tenha sido a definição numérica exata, fato é que ao redor das 7 horas da manhã do dia 27, deu-se o contato entre o batalhão de Durvalino e o I/9ºRCI.

|||E a realidade do entrevero provou que os efetivos e meios bélicos das forças legalistas não eram parcos e muito menos diminutos.

|||Com efeito, Carlos Fidêncio relata em seu livro que Durvalino e seus companheiros foram recebidos a tiros, porquanto

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"estavam os legalistas fortemente armados, inclusive com metralhadoras de grosso calibre. A recepção aos soldados da Legião foi violenta. Um negro tombou aos pés de Durvalino. O oficial mandou: Enterre o homem! - Durvalino enterrou. Antes o transportou nas costas por 500 metros" (FIDÊNCIO, 1986, p. 374).

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|||De acordo com informações posteriormente colhidas dos legalistas sobreviventes desse ataque, o capitão Dilermando de Assis relata que as forças constitucionalistas atacaram o esquadrão "inopinadamente, com armas automáticas, envolvendo logo a povoação, matando um oficial, vários praças e muitos cavalos" (ASSIS, 1936, p.267).

|||Já do lado dos paulistas, Durvalino relatou a Carlos Fidêncio que o tiroteio não cessava. A sede que ele estava insuportável e desejava ela saciá-la quando solicitou ao major comandante do batalhão que o deixasse se deslocar até local ali perto onde ele sabia existir uns pés de laranja lima.

|||O major de imediato não permitiu. Seria arriscado, não queria perder Durvalino por causa de algumas laranjas. Mas ele insistiu e o major aquiesceu, mas que fosse rastejando. E assim foi o soldado.

|||Ao aproximar-se do pé, eis que Durvalino encontrava-se numa posição tal que podia ele contemplar a disposição das forças legalistas, suas metralhadoras, atiradores e cavalgada, sem ser alvejado e muito menos visto. Enquanto ele com o corpo colado ao chão saciava a sua sede com algumas das laranjas que encontrou ao solo, não conseguiu Durvalino conter o sentimento de vingança que se apossou de seu coração ao testemunhar essas mesmas metralhadoras atirando na direção de seus companheiros e derrubando alguns.

|||Era chegada a hora de virar o jogo.

|||Retornou Durvalino às suas posições e de imediato relatou ao major o que tinha visto. Este ainda deliberou que antes de tomarem as metralhadoras por aquele caminho, que parlamentassem com os legalistas, demandando que depusessem das armas e se integrassem aos paulistas.

|||Isto mesmo quem fez, segundo relatou Durvalino à Carlos Fidêncio, foi o próprio major comandante, que na tentativa de parlamentar fora também recebido a tiros, um dos quais quase lhe decepou a orelha esquerda (FIDÊNCIO, 1986, p.379).

|||Possesso pelo ataque sofrido, o major dá ordens para que sejam tomadas as metralhadoras a todo transe.

|||Durvalino e alguns de seus companheiros rastejam pela picada que dava acesso até os pés de laranja e de lá avançam em uníssono na retaguarda do inimigo, matando a tiro e a arma branca os primeiros que encontraram, para daí tomar das metralhadoras, as quais viraram em direção dos demais elementos do esquadrão de cavalaria e dispararam até o último cartucho.

|||As lúgubres cenas de morticínio que aí se registraram escapam do escopo historiográfico desse texto, mas refletiram sobremaneira nas palavras de Carlos Fidêncio quando ele afirma que Durvalino contabilizara dezenas de soldados legalistas abatidos (FIDÊNCIO, 1986, p.379) entre os quais, Dilermando de Assis confirmou um oficial, várias praças e 43 cavalos (ASSIS, 1936, p.268)

|||Seja qual tenha sido o real número de baixas legalistas colhidas pelo fio da baioneta e pelo fogo da metralha, o soldado Durvalino e seus companheiros assaltantes da posição, ao final do disparo da última munição, puderam então contemplar o silêncio da morte que há pouco havia ceifado a vida dos últimos legalistas que resistiram até o fim.

|||A cena deve ter sido por demais impactante. Até mesmo para aqueles combatentes calejados como Durvalino, cujo simples olhar ao redor das fumegantes metralhadoras, bastaria para divisar corpos desfigurados de homens e cavalos em total conluio no campo de batalha.

|||Tomado de forte emoção, Durvalino senta-se no chão, levanta a cabeça aos céus e em meio àquele inferno que acabara de sobreviver, ele chora, convulsiva e nervosamente.

|||Muitos de seus companheiros que com ele ombro a ombro ali se bateram também choram. O preço daquela vitória, sem sombra de dúvida alguma, fora alto demais para todos que ali presenciaram os horrores vividos tão intensamente que pena alguma seria capaz de descrever em toda a sua plenitude e extensão.

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.: O Cabo Blindado :.

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|||As notícias da derrota do I/9ºRCI em Capela de Santo Antonio impulsionaram o comando das forças legalistas a multiplicarem os seus recursos humanos e bélicos  objetivando apertar o cerco sobre os constitucionalistas em direção à tomada de Capão Bonito, o que desejavam a todo transe e finalmente conseguiram, após a vitória que obtiveram em um dos mais sangrentos entreveros de toda a revolução, o Combate do Rio das Almas, nas trágicas jornadas de 17 e 18 de Setembro de 1932.

|||Alheios ao que o futuro o aguardava, o batalhão da Legião Negra que Durvalino pertencia se retirou da Capela de Santo Antonio e seguiu a cumprir outras missões que os depoimentos prestados à Carlos Fidêncio não mencionaram, mas o reconhecimento obtido por Durvalino em face do combate de Apiaí-Mirim não ficou esquecido.

|||Em menos de 24 horas após o término desse combate foi Durvalino promovido à graduação de cabo por bravura.

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Durvalino de Toledo quando promovido à cabo do Exército Constitucionalista

Fonte: livro ITAPETININGA ONTEM- HOJE (p. 376)

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|||Diante de sua intrepidez, iniciativa e coragem incontestes sob fogo inimigo, o major comandante o parabenizou com essa merecida promoção, o que colaborou para aumentar ainda mais o prestígio que Durvalino já gozava entre seus pares na Legião. E a antiga autonomásia, soldado blindado, passara dali em diante ser atualizada pela novíssima graduação militar, a saber, cabo blindado.

|||Os depoimentos de Durvalino prestados à Carlos Fidêncio sobre a Revolução de 32 chegam ao seu fim após o cabo blindado ter participado do Combate do Rio das Almas, durante quatorze dias, ao fim dos quais Durvalino foi removido para São Paulo, onde aguardou a assinatura dos termos da rendição que ocorreu no dia 2 de outubro de 1932.

|||Estava a revolução acabada para o cabo blindado. Aos vinte e cinco anos de idade, sobrevivente dos horrores que viveu e presenciou, Durvalino de Toledo ainda era membro da briosa Força Pública de São Paulo e poderia continuar a sua carreira policial militar se assim desejasse. Mas optou por pedir baixa da corporação e retornar ao berço de sua existência, a Itapetininga que deixara para combater por São Paulo nos dolorosos meses da revolução.

|||E como veremos a seguir, o Ex-Combatente Durvalino tinha muito mais do que pudesse imaginar lhe esperando em Itapetininga.

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.: Para os amigos Filo :.

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|||Anos antes de ingressar na Força Pública, é sabido que a 30 de abril de 1927, Durvalino casara-se com moça de Itapetininga chamada Maria da Silva.

|||Vieram, pois, os anos da Revolução de 32 e as agonias das incertezas de que Durvalino voltaria vivo ou não desse conflito não foram fortes o bastante para arrefecer o amor do jovem casal.

|||Tanto assim foi que dessa feliz união nasceram 8 filhos, dos quais, até a publicação desse texto no portal, agosto de 2011, vivos entre nós se encontram a primogênita D. Maria Francisca Toledo, que reside no Rio de Janeiro; D. Vera Leonardo, que reside em Santos; e o caçula do casal, o Sr. Eugenio de Carmo Toledo, residente no bairro Santana, em Itapetininga.

|||As informações que seguem sobre a vida de Durvalino de Toledo no pós-revolução nos foram gentilmente transmitidas por esse seu filho caçula, o Sr. Eugenio, que muito nostalgicamente relembrou de fatos sobre a vida de seu pai que como veremos a seguir se confundiram com a própria história de Itapetininga.

|||E realmente assim o foi.

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Viaduto "Durvalino Toledo" na rua Antenor de Oliveira Mello Júnior

Fonte: Portal Paulistas de Itapetininga

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|||Era 12 de agosto de 2011 quando vínhamos em direção ao bairro do Santana em busca de familiares de Durvalino. A única informação que tínhamos era de que logo depois do supermercado COFESA, na rua Antenor de Oliveira Mello Júnior, haveria um viaduto com o nome de nosso Ex-Combatente. Em conversa com Carlos Fidêncio, familiares do Ex-Combatente estariam inclusive residindo naquelas imediações.

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Detalhe do nome do viaduto em homenagem ao ex-ferroviário

Fonte: Portal Paulistas de Itapetininga

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|||Ao passar sobre o viaduto, eis a primeira de várias revelações que estavam reservadas para aquele dia. O nome de Durvalino ali estava consignado sobre a legenda "ex-ferroviário", portanto, no pós-revolução certo seria que essa fora a profissão adotada pelo Ex-Combatente.

|||E tais suposições confirmaram-se. Após algumas informações, encontramos a casa onde residiu Durvalino até falecer em 1º de Janeiro de 2001 e à porta desta, localizada exatamente na esquina da rua Santana com a rua Antonio de Almeida Leme, um de seus bisnetos, o jovem Alef Durvalino de Toledo Custódio.

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O bisneto Alef e e o pesquisador onde o Vet. Durvalino residiu

Fonte: Portal Paulistas de Itapetininga

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|||Apresentamo-nos a Alef e muito interessado ele ficou em colaborar com o nosso trabalho. De imediato, Alef nos contou do tio Eugenio, único filho de Durvalino residente na cidade e nos mostrou o caminho até a residência dele, na parte alta do bairro Santana, onde na tarde daquele dia 12, passamos agradáveis horas conversando.

|||Muito prestativo nas informações que compartilhou, o Sr. Eugênio nos deixou a vontade para compreender de fato quem veio a ser o Durvalino de Toledo após a Revolução de 32.

|||Com efeito, Durvalino havia se desligado a pedido da Força Pública e ingressado na Companhia Ferroviária Sorocabana, onde fez carreira e a se aposentar no final da década de 50.

|||Durante os anos que trabalhou na Sorocabana, Durvalino não deixara também de exercer a sua primeira profissão, a de pedreiro, vindo no bairro de Santana a construir 28 casas. Como ferroviário, contudo, foi graxeiro e também truqueiro, funções que desenvolveu com bastante proficiência e profissionalismo, não só pelos conhecimentos técnicos que detinha, porquanto era responsável pela manutenção mecânica dos trens, como também pela necessárias força e disposição física para a competente condução desses trabalhos realizados em trens de lenha, inclusive.

|||Paralelamente às profissões de ferroviário e pedreiro, uma outra face de Durvalino surgiria nos anos após a Revolução e que muitos benefícios traria àqueles que privaram de seus cuidados e amizade. Na realidade, essa era a face da paixão pelo futebol que ele sempre tivera desde menino e que, a bem da verdade, nunca dificuldade alguma que enfrentara em toda a vida conseguira abafar.

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Durvalino (1º a esquerda de pé) e um dos vários times

que organizou e foi técnico em Itapetininga (1956)

Fonte: acervo da família Toledo

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|||Eugenio, seu filho primogênito, tornou-se seguramente um apaixonado pelo futebol graças a influência de seu pai Durvalino, fundador e técnico de times de futebol na cidade.

|||Durante os anos 40, Durvalino tinha sido também goleiro da Associação Atlética de Itapetininga e nos anos que se seguiram quando se afastou como jogador, dedicou-se ele a criar times de futebol.

|||De fato, o time do bairro Santana foi por ele criado e tamanha era a dedicação que tinha pelo desenvolvimento do esporte naquele bairro que Durvalino não só criava o time, mas fornecia uniforme, alojamento e até alimentação aos jogadores.

|||De sua participação no esporte de Itapetininga, ele ainda promovia a cada treze de maio, partidas de futebol entre times de jogares afro-descendentes com jogadores não afro-descendentes. Até uma foto autografada pelo Rei do Futebol, Pelé, Durvalino recebeu das mãos deste, quando se conheceram anos atrás.

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Durvalino (5º da esquerda para a direita de pé) e time (2008)

Seu filho Eugenio nele está (3º abaixado da esq. para a direita)

Fonte: acervo da família Toledo

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|||Mas as paixões de Durvalino não residiam só no futebol.

|||Era ele de fato um homem do povo e para o povo. Tudo que fazia era em prol das pessoas de Itapetininga, em especial a sua juventude, e até o fim da vida, em 2001, não poupou esforços para ajudar no que pudesse os seus semelhantes.

|||De fato, fora Durvalino comissário de menores, inspetor de quarteirão, presidente da Frente Negra de Itapetininga, presidente do Clube 13 de Maio, um dos fundadores da Escola de Samba Aristocrática do bairro de Santana, e ainda um dos fundadores e presidente da Associação de Amigos desse mesmo bairro.

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Baile no Clube 13 de Maio nos anos 70 quando da presidência de Durvalino

Fonte: acervo da família Toledo

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|||Por esses e outros feitos, Durvalino não deixou de ser merecedor do reconhecimento de seus concidadãos, sendo agraciado com a Medalha do Mérito, conferida pela Câmara Municipal de Itapetininga, em resposta ao decreto nº 159 de 5 de abril de 1988.

|||Da sua participação na Revolução de 32, Durvalino recebeu a Medalha do Cinquentenário da Revolução Constitucionalista de 32 e seu respectivo diploma, honrarias que ao lado de outras tantas recebidas em vida, seu filho Eugenio hoje guarda com muito carinho.

Honrarias recebidas por Durvalino

Fonte: acervo da família Toledo

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|||Eis uma personalidade cujo esboço histórico tivemos o privilégio de retratar.

|||A de homem de Itapetininga simples, humano, bondoso, forte, generoso e sábio pela escola da vida, pelas intempéries da existência, pelo valor e bravura demonstrados e pelos horrores vividos dos campos de batalha. Tão sábio aos olhos de seus amigos e admiradores que conhecido era por um quarto e último apelido, filo, que advinha de filosofia. Com isso completamos a lista de autonomásias que Durvalino colecionou ao longo dos 94 anos que viveu: onça, soldado blindado, cabo blindado e filo.

||EDescanse em paz companheiro! Nós que aqui estamos, por vossa memória velamos.

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.: Agradecimentos :.

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|||Com a conclusão dessa pesquisa sobre o Ex-Combatente Durvalino de Toledo, olhamos para trás e nítido fica o quanto precisamos da colaboração de alguém para que até mesmo uma idéia possa a vir nascer em nossa imaginação.

|||De fato, como vimos, a simples sugestão de um nome foi capaz de disparar todo um conjunto de ações, pessoas, recursos e situações cuja concatenação de achados e esforços deslancharam no presente resgate histórico da vida formidável de um Ex-Combatente itapetiningano da Revolução de 1932.

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Ex-Combatente Durvalino de Toledo

Fonte: acervo da família Toledo

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|||As aprendizagens, as amizades e os contatos realizados no processo desse resgate, bem como toda a riqueza da vida do Ex-Combatente que emergiu, foram os louros mais proveitosos dessa empreitada investigativa, na qual tudo colaborou para que as partes dessa pesquisa fossem, a seu devido tempo, se encaixando à medida que novos fatos, evidências e informações foram surgindo ao longo da caminhada.

|||A todos aqueles que conosco aqui estiveram e cujos nomes foram consignados nesse texto, os nossos mais efusivos e calorosos agradecimentos. Histórias de vida como as de Durvalino de Toledo demonstram claramente que nossos heróis estão muito mais próximos do que imaginamos e suas vidas precisam ser conhecidas pelos exemplos que caracterizam.

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